14 janeiro 2014

Jovem Emigração Qualificada para França: Um regresso improvável

Terminei em finais de 2013 um estudo exploratório sobre a jovem emigração portuguesa para França tendo obtido uma amostra de 113 inquiridos entre os 20 e os 35 anos, com pelo menos a licenciatura e que abandonaram Portugal a partir de 2008. Ao contrário de vagas anteriores, estes jovens não acalentam “a fantasia do regresso”, seguindo a expressão do realizador Rubem Alves.

Na verdade, os projetos e as decisões comportam sempre uma dose de reflexividade face às condições objetivas de existência e uma dose de cálculo quanto aos futuros possíveis. Ora, para estes jovens o regresso não é uma hipótese a curto prazo. Compreendem-se bem as razões: por um lado, a decisão de emigrar é recente e encontram-se em pleno processo de inserção no país de destino, com forte investimento na preparação de uma vida nova; por outro lado, tal processo parece corresponder aos seus objetivos, na medida em que a França se afigura um país que reconhece as suas qualificações e que, mais ainda, acresce qualificação à qualificação (carreiras estáveis, protegidas, bem remuneradas, com francas possibilidades de progressão). Finalmente, a dura situação portuguesa, sem vislumbre de melhoria próxima, obriga ao refrear das expetativas.

Assim, prudentemente, o regresso a Portugal está dependente da evolução da situação do país, o que é válido quando cruzamos esta afirmação com o sexo (Quadro 1), mas também com a idade, o capital escolar e a área profissional. A exceção está nos profissionais da área de arquitetura que, na sua totalidade, afirmam nunca mais voltar, reflexo da aguda crise no setor da construção.

Razões para emigrar
Observemos entretanto a síntese contida no quadro seguinte e que compara as diferentes “afirmações” quanto ao nível mais elevado de concordância:


Quadro 1. Grau máximo de concordância face às várias afirmações

Concordo muito (%)

Sempre desejei sair do país após concluir o meu curso

16,8
A minha família sempre me estimulou a procurar emprego fora

8,8
Não consegui encontrar emprego, apesar de várias tentativas

34,5
Sempre gostei de viajar e trabalhar fora

35,4
Em Portugal não existem possibilidades de carreira

53,1
Em Portugal não consigo progredir em termos de formação

28,3
Em Portugal não consigo progredir em termos de remuneração

61,1
Em Portugal não consigo ter dinheiro para constituir uma família

51,3
Em Portugal não consigo ter uma casa própria

53,1
Estava a ficar desesperado/a por não conseguir subsistir

21,2
A França atrai-me como país de futuro.

20,4
O mercado de trabalho em França reconhece melhor as minhas qualificações e competências

44,2
Em França as possibilidades de satisfação e autonomia no trabalho são maiores

38,9
A minha família tem tradição de emigrar

7,1

A remuneração, a falta de progressão na carreira, de casa própria e a dificuldade em constituir família constituem os principais motivos para emigrar. Pelo contrário, a pressão familiar e a tradição emigratória merecem a maior discordância. Ou seja, são os fatores estruturalmente ligados à situação do país – e não ao núcleo afetivo mais próximo - e os obstáculos ao processo de autonomização face à família de origem que se afiguram como os mais relevantes para a nossa amostra. Dir-se-ia que estes jovens querem deixar de ser jovens mas não o conseguem, bloqueados que estão nas múltiplas transições (para um emprego estável; para um núcleo conjugal; para a vida ativa).

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