24 janeiro 2014

Jovens Diplomados em Portugal: vínculo, salário e futuro (parte 2)

No post anterior abordei alguns dados de duas Universidades sobre a evolução do desemprego, do emprego e do trabalho qualificado nos jovens licenciados. Vejamos agora a situação contratual e o salário. Temos assistido a uma precarização progressiva dos vínculos dos diplomados e uma desvalorização salarial crescente? E o que é que isto nos diz sobre os processos mais amplos de transformação do trabalho economia portuguesa?


Fig1: Situação perante o trabalho nos Diplomados da UNL
Fonte: OPIPNOVA



Fig2: Situação perante a actividade nos diplomados da UÉv
Fonte: Observatório do Emrpego UÉv



Constata-se a tendência, de que seja no caso dos licenciados, seja no caso dos mestres, a condição de trabalhadores por conta de outrem têm praticamente aumentado progressivamente desde 2004. Se voltarmos ao caso da Universidade de Évora os dados comparados entre os diplomados com licenciatura de 2009 e de 2012 mostram que as situações de vínculo definitivo e trabalhadores por conta própria diminuem. O trabalho precário diminui na medida de aumento do desemprego e proliferam situações atípicas de trabalho como trabalhadores sem contrato ou a avença. Que peso têm estas situação atípicas de trabalho noutras universidades? 

Fig 3: Situação contratual nos diplomados da UMa, UTAD e UP. 


Nos dados recolhidos pela Universidade da Madeira, a UTAD e a UP vemos que hoje as situações de trabalho que não são representadas nas categorias de "contrato sem termo", "contrato a temo certo" e "prestação de serviços/recibos verdes" já rondam valores entre 11,9 e 21 por cento. Dados preocupantes quando a situação de contratação sem termo ou a temo incerto já não abrangem nem metade dos diplomados destes últimos anos.

 Trataremos agora uma última dimensão fundamental na discussão que propomos: o rendimento. O salário direto que os diplomados ganham ajuda-nos a pensar se as transformações no trabalho e a precarização estão a desqualificar o trabalho qualificado e a aproximá-lo das condições salariais de trabalhos mais baixas. É difícil proceder aqui a uma análise comparativa uma vez que as universidades usam escalões de rendimento muito diferenciados. Contudo, dos dados publicitados podemos retirar as seguintes conclusões gerais para cinco universidades.

 - Na Universidade de Évora 43,1 % dos diplomados ganha até 750 euros e 69,3 % até 1000 euros. Se comparáramos com os dados de 2009 a situação têm-se agravado: em 2009 ganhavam até 750 euros 27,2 % e até 1000 euros 58 % dos diplomados.

 - No caso da Universidade da Madeira ganham até 800 euros 36,9 % dos diplomados, e menos de 1100 euros 67, 1 %. 

 - Já na Universidade do Porto 59,9 % dos diplomados não ganha até 800 euros, enquanto que 85,5 % não ganham mais de 1100 euros.

 - No caso do ISCTE ganham até 900 euros 49,2 % dos diplomados, e até 1200 euros 85,5 %.

- A UNL e a UL apresentam a média salarial sendo no primeiro caso de 981,96 e no segundo de 812 euros .

 Com efeito, hoje os diplomados continuam, no geral, a ganhar mais do que outros jovens em trabalhos menos qualificados, mas não é uma situação garantida. Os valores mostram-nos que a maioria dos diplomados não passa efetivamente de um leque salarial entre 500 e 100 euros, tendo muita expressão os escalões rendimento mais baixo. Acresce a isto que nos dados sucintamente aqui discutidos é possível constatar indícios de uma desvalorização salarial crescente do trabalho qualificado. A introdução do processo de Bolonha, ou aumento das propinas nos 2º ciclos e a pauperização crescente do trabalho qualificado mostram-nos também como se opera uma mudança estrutural na sociedade portuguesa. Olhemos para o Porto:

Fig4: Motivos para não prosseguimento dos estudos nos diplomados da UP
Fonte: Observatório do Emprego da UP

De facto, as principais razões para os estudantes de licenciatura não prosseguirem para um mestrado são a falta de recursos económicos, de apoio social e de expectativas perante o trabalho. Se a isto somarmos que 40 % dos estudantes do Ensino Secundário que faziam exames não pretendiam candidatar-se ao Ensino Superior, vemos bem os riscos que corremos. E são muitos. Muitos mesmo.

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