14 janeiro 2014

Vinte anos para sair da recessão: o que dizem os economistas ortodoxos



Kenneth Rogoff, que foi economista chefe do FMI, e a sua coautora Carmen Reinhart tornaram-se dos economistas mais polémicos dos nossos dias. Por boas razões (um livro que inventaria as crises financeiras dos últimos duzentos anos) e más razões (pelo seu erro de palmatória no cálculo do efeito da dívida no arrastamento dessas crises, a que responderam corrigindo parcialmente os seus métodos).

Agora, voltaram à carga e apresentaram, na conferência de janeiro da Associação Americana de Economistas, um artigo que compara a segunda depressão com a primeira (a que começou em 1929). Esse artigo foi resumido aqui e aqui.

O gráfico que apresentamos acima, e que é a versão do Economist dos seus resultados, diz tudo. Em cima, temos a “severidade” da primeira grande depressão, medida pela queda do produto per capita e pelo número de anos necessários até à recuperação do nível de produto anterior à crise. E, a partir daí, temos os vários casos de “severidade” da segunda grande depressão, incluindo estimativas sobre quanto tempo será necessário para voltar ao início. No caso de Portugal, os autores estimam 19 anos: em 2027 voltaríamos a 2008. A Irlanda, Espanha, Itália e Grécia demorarão mais tempo, mas isso é fraco consolo.


Portugal estaria na média dos efeitos das cem crises que os autores consideram: mais de 10% de queda do PIB per capita e quase vinte anos para recuperar.

Mas os autores sugerem ainda uma solução: mudar de vida. É preciso reestruturar as dívidas dos países da periferia europeia (o que Rogoff já defendeu numa entrevista ao Expresso), é preciso que haja um nível de inflação suficiente para desvalorizar as dívidas e é precisa uma “repressão financeira”, ou seja restrições aos movimentos de capital. Oliver Blanchard, que é o actual economista chefe do FMI, e Larry Summers, e Harvard e que foi presidente do conselho económico de Clinton, concordam com a terapia inflaccionária moderada. Exactamente a solução de que o BCE e a Comissão Europeia nem querem ouvir falar.

4 comentários:

  1. Pois, pois. Larry Summers aqui há coisa de umas semanas emitiu ou entregou um discurso numa conferência do Fundo Monetário Internacional - este já de si capitaneado 1a Madame Lagarde - em que se pronuncia sobre uma era de estagnação secular - secular stagnation. Steady-state all over again e em torno de si. Não tardou a ser glosado pelos comentaristas de serviço na rede global, penso nomeadamente em Paul Krugman. E no seu texto chiclete.

    Como levantar ou passar o teto é a pergunta que todos fazem. Todos damos por adquirido que para saltar em altura, temos primeiro de nos fazer ligeiros. É aí que entra o plano estatal. A moeda no inverso de si mesmo não é inflação - é ponto de balanço.

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  2. Muita metaforização já foi feita em volta da crise do euro. Sinto-me mal. Ou a economia sente-se mal - está doente. O vírus grego, o asseio irlandês. Se a França tinha ou tem o melhor sistema de saúde do mundo - pense-se no estrelato internacional, que juntamente com 1a peça ou talhão de terroir não dispensa as bem sucedidas curas de face - ajuíza hoje o Eliseu que já não tem processo e receita para curar o french sick man que nos obrigam a ombrear.

    O BCE e a Comissão obrigam a Europa a espargata dolorosa. A falência sistémica dos órgãos está em suspenso. Mais tarde do que cedo vimos a descobrir - que se some o mercado interno. Despesa social 'despesa social' não quer dizer nada. Os EUA têm os gastos com saúde per capita mais altos do mundo. O que a Europa precisa é de escala - escala. E novo ajustamento-do-mundo-às-palavras. Ela já o sabe. Quem será o tonto agora ?

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  3. Por outras palavras também
    isto tudo demora o tempo de uma vida - não vamos agora cair numa regressão estatística . mas afinal hoje também vendo bem.. http://uk.reuters.com/news/pictures/slideshow?articleId=UKRTX17FNX#a=1

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  4. mas a atualidade tem mais que gráfico de barras. tem mais; a relação sujeito - objeto é uma expetativa , o mundo criado (constituído) a sua dialética
    a pergunta desliza. não é porque baixam / sobem os preços. mas sim , porque caem agora os juros. e mt - a semana passada, esta: Portugal, Grécia, Espanha, etc. e continuarão a cair Porque o juízo o sentimento mudou Está no ar. Sente-se Cá no Portugal a especificidade é que os laranjinhas do paços coelho tão no poder Mais haverá
    Mas como todas as perguntas esta tem gato escondido com rabo de fora; caem porque a convenção de mercado da perceção de risco mudou, mas só caem também porque são ainda tão altos (é a pressa também de todos, de primeiro a chegar para assegurar quantia limitada). Juros altos com risco baixo? Não, porque o Estado é uma relação especial: o Estado não tem risco. As troikas garantem a dominação e a finança internacional vai fazendo a usura até onde as expetativas derem. Qd as expetativas voltarem a pessimismo (ou porque o número negro trimestral da finança orçamental ou por outra dança de agente político de oportunidade), muda o sinal . Pior: só fica a perpetuidade ao juro já fixado. Já houve também tempos em que as dívidas se transmitiam por herança. Ora novamente, o Estado é uma relação especial como se vê.

    O falhanço está à vista: é dívida que se acumula para menos economia. Deixam-na para as próximas gerações. Porque as pensões extinguem-se com a morte . Os Estados são eternos. Os mercados tão lá para fazer o rollover(este o termo mais sexy da finança ,dê por onde der).

    Assim o que se exige aos blogonautas pelo menos:
    é achar os lustros e avaliar contra 1a equação de estabilidade de dívida. assim 2008-2013; 2003-2008; 1998-2003; 1998-1993 - ver em quantos destes estivemos na negativa. Porque desconfio que em todos: a hemorragia social do hoje não é causa portanto , é consequência

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