04 fevereiro 2014

Vende-se

A questão da venda dos quadros de Miró é ilustrativa do que nos está a acontecer enquanto país. Em primeiro lugar, parece uma questão de mera contabilidade nacional: reduzir os prejuízos que o caso BPN causou ao erário público. De acordo com o Secretário de Estado da Cultura a lógica é cristalina. Uma vez que há um buraco de biliões de euros, não lhe interessa o montante que a venda dos quadros representa, apenas o princípio (Público).
Ora, para um responsável pela cultura, é um péssimo princípio, completamente demissionário das suas responsabilidades. Em nada lhe interessa que a coleção, apesar de internamente desigual, constitui, na sua diversidade, uma das mais representativas do pintor catalão. De nada lhe interessa que os museus portugueses tenham défices profundos em termos de espólio de arte contemporânea. De nada lhe interessam os potenciais usos futuros em termos de turismo cultural e de formação de públicos. De nada lhe interessa que o tribunal administrativo tenha considerado ilegal o despacho em que decide não decidir, permitindo a saída das obras. De nada lhe interessa a imagem internacional de um país desesperado, disposto a prescindir de tudo, princípios incluído. O secretário de estado da cultura comportou-se como um amanuense da ministra das Finanças.

Parece tudo fruto de um cálculo mesquinho. Mas mesmo sob esse prisma, a decisão é um logro. O Estado português gastou mais de 50 milhões de euros para recuperar estes quadros dos off shores onde estavam. Agora poderia ganhar um pouco mais de 35 milhões. O prejuízo é evidente.

As razões são ideológicas e encarnam no menosprezo pelos bens culturais quando se coloca em questão o interesse dos privados. Afinal, a sociedade anónima de capitais públicos que pretendia leiloar os quadros gere os chamados ativos tóxicos (uma espécie de bad bank) e interessa-lhe ter capital para injetar mais no poço sem fundo do BPN, particularmente desde que os angolanos do BIC compraram o banco “limpinho” de dívidas. Sabem por quanto o Governo vendeu o BPN ao BIC? 40 milhões. O preço que pretendia obter agora com este miserável leilão.

1 comentário:

  1. tá tudo certo
    tudo se encaixa - é um problema de monta isto dos quadros

    http://24.media.tumblr.com/c96abd241c6eaae521aa1ca425f453f3/tumblr_mjfisgiStt1qgo2o2o1_1280.jpg

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