27 junho 2014

ai, desarranjadas é que não


A agressão diária do capitalismo, a emigração, a destruição do SNS, a doença da escola pública, a precariedade espraiada, os risíveis contratos de trabalho, o desemprego, as parcas reformas, os salários inexistentes, um país sem dignidade e a perder a esperança no futuro. Nada disto é novidade, como não é novidade que ainda há quem tente mudar de futuro perante a lumpenização do Estado que as políticas neoliberais vão logrando por aí. Por isso, urgem novas formas de activismo, surgem novas reconfigurações da esfera política, perante um ataque sedento dos fanáticos neoliberais e perante as organizações e reorganizações de quem defende o estado social e se vai mexendo como pode, inventando e reinventando formas de luta. Com tanto em jogo, ninguém vira costas à luta.

Ah, excepto a JSD.

A JSD, perante um país a arder, promove workshops de auto-maquilhagem e de matraquilhos. Se não tiverem que fazer este fim-de-semana, apareçam. Se tiverem que fazer, cancelem e apareçam na mesma. Podem roubar-nos os salários, mas aprenderemos finalmente a usar o lápis dos olhos. Podem roubar-nos os empregos, mas conseguiremos, pela primeira vez, marcar um golo sem ser por acaso. Se vierem pauperizar-nos mais, arrancar-nos a dignidade a ferros, destruir-nos a educação, a saúde, os projectos de vida e futuro, sorriremos, com lábios sensuais pintados, muito felizes, talvez por já estarmos do lado em que, pelo empobrecimento alheio, já está tudo bem.

1 comentário:

  1. «quem defende o estado social e se vai mexendo como pode, inventando e reinventando formas de luta»


    Ouve-se muitas vezes dizer que "a violência gera violência", que "a violência nunca consegue nada", ou que "se se usar a violência para nos defendermos daqueles que nos agridem, ficamos ao nível deles". Todas estas afirmações baseiam-se na noção errada de que toda a violência é igual. A violência pode funcionar tanto para subjugar como para libertar:



    * Um pai que pegue num taco para dispersar à paulada um grupo de rufias que está a espancar o seu filho, está a utilizar a violência de uma forma justa;

    * Uma mulher que crave uma faca na barriga de um energúmeno que a está a tentar violar, está a utilizar a violência de uma forma justa;

    * Um homem que abate a tiro um assassino que lhe entrou em casa e lhe degolou a mulher, está a utilizar a violência de uma forma justa;

    * Um polícia que dispara contra um homicida prestes a abater um pacato cidadão, está a utilizar a violência de uma forma justa;

    * Os habitantes de um bairro nova-iorquino que se juntam para aniquilar um bando mafioso (que nunca é apanhado porque tem no bolso os políticos, os juízes e os polícias locais), estão a utilizar a violência de uma forma justa;

    * Um povo que usa a força dos músculos e das armas (já que sonegado de todas as entidades que que o deveriam defender), contra a Máfia do Dinheiro acolitada por políticos corruptos, legisladores venais e comentadores a soldo, cujos roubos financeiros descomunais destroem famílias, empresas e a economia de um país inteiro, esse povo está a utilizar a violência de uma forma justa.

    Num país em que os políticos, legisladores e comentadores mediáticos estão na sua esmagadora maioria a soldo do Grande Dinheiro, só existe uma solução para resolver a «Crise»... Somos 10 milhões contra algumas centenas de sanguessugas...

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