Medo e desespero. Em Tempos Interessantes: uma vida no século XX (2005), Eric Hobsbawm conta-nos como foi imune a estes sentimentos nos anos do pré-guerra, chegando a uma explicação simples: a ação política comia o medo. Nos anos trinta, a radicalização de alguns sectores estudantis ingleses, dos quais fazia parte Hobsbawm, beneficiava de uma combinação poderosa: a identificação de um inimigo e dos que colaboravam na recusa em combatê-lo, o nazismo e governos britânico e francês respectivamente; um campo de batalha, a Espanha republicana; e a certeza num outro mundo possível, ideologicamente e programaticamente compreensível através do socialismo.
A transposição histórica desta tríade de combate para os nossos tempos não cumpre mais que um exercício de triste constatação: os campos de batalha escasseiam, a capacidade de desnudar o inimigo comum embate na mistificação da crise e das suas origens, as certezas num outro mundo vacilam perante o recrudescimento da luta social. Saber ler os sinais que nos chegam é perceber o medo que nos vai engolindo.
Um primeiro alerta pode ser encontrado no recente livro publicado pelo João Carlos Louçã, Call Centers (2014), onde temos acesso a um relato etnográfico das vivências e experiências de alguns trabalhadores precários. Da indagação sobre a participação destes trabalhadores em duas das últimas greves gerais, fica-nos, com perplexidade, uma resposta:
«Que eu saiba ninguém faltou. Cada pessoa, quem tinha carro tentou dar boleia a quem não tinha e morava na zona. As chefias ficaram muito agradadas por ninguém ter faltado. Foi um email enviado “organizem-se, quem puder dar boleia, por favor dê”. As pessoas organizaram-se e foram.»
Esta organização desorganizadora dos trabalhadores enquanto coletivo cavou fundo nesta última década. Conhecemos as suas raízes neoliberais e as suas fronteiras políticas entrincheiradas no Tratado de Maastricht. Mas foi, todavia, com a troika que este processo se acelerou, com o desemprego apontado à cabeça de uma maioria, pronto a disparar. Não será por acaso que quando 160 jornalistas da Controlinveste são despedidos e se concentram à porta do Diário de Notícias, um dos profissionais despedidos expresse o seu desconsolo por a administração não ter acedido a rebaixar os salários como uma solução possível.
A vivência do desemprego como drama pessoal é hoje uma das principais derrotas políticas do movimento dos trabalhadores. A afirmação de um campo de representação expresso pela participação e organização de todas as formas de trabalho (precários, bolseiros, estagiários, recibos verdes) exige um grau de consequência nas formas de organização e protesto que ainda não foi alcançado nem se apresentou como perceptível à maioria dos que vivem do trabalho. Esse é o campo que devemos conquistar, em primeiro lugar, na batalha contra o medo, que nos permita manter firme a indignação contra o despedimento ou a sua ameaça.
A transposição histórica desta tríade de combate para os nossos tempos não cumpre mais que um exercício de triste constatação: os campos de batalha escasseiam, a capacidade de desnudar o inimigo comum embate na mistificação da crise e das suas origens, as certezas num outro mundo vacilam perante o recrudescimento da luta social. Saber ler os sinais que nos chegam é perceber o medo que nos vai engolindo.
Um primeiro alerta pode ser encontrado no recente livro publicado pelo João Carlos Louçã, Call Centers (2014), onde temos acesso a um relato etnográfico das vivências e experiências de alguns trabalhadores precários. Da indagação sobre a participação destes trabalhadores em duas das últimas greves gerais, fica-nos, com perplexidade, uma resposta:
«Que eu saiba ninguém faltou. Cada pessoa, quem tinha carro tentou dar boleia a quem não tinha e morava na zona. As chefias ficaram muito agradadas por ninguém ter faltado. Foi um email enviado “organizem-se, quem puder dar boleia, por favor dê”. As pessoas organizaram-se e foram.»
Miguel, 36 anos, há 4 anos e meio em call centers,
operador de um grupo de saúde
Esta organização desorganizadora dos trabalhadores enquanto coletivo cavou fundo nesta última década. Conhecemos as suas raízes neoliberais e as suas fronteiras políticas entrincheiradas no Tratado de Maastricht. Mas foi, todavia, com a troika que este processo se acelerou, com o desemprego apontado à cabeça de uma maioria, pronto a disparar. Não será por acaso que quando 160 jornalistas da Controlinveste são despedidos e se concentram à porta do Diário de Notícias, um dos profissionais despedidos expresse o seu desconsolo por a administração não ter acedido a rebaixar os salários como uma solução possível.
A vivência do desemprego como drama pessoal é hoje uma das principais derrotas políticas do movimento dos trabalhadores. A afirmação de um campo de representação expresso pela participação e organização de todas as formas de trabalho (precários, bolseiros, estagiários, recibos verdes) exige um grau de consequência nas formas de organização e protesto que ainda não foi alcançado nem se apresentou como perceptível à maioria dos que vivem do trabalho. Esse é o campo que devemos conquistar, em primeiro lugar, na batalha contra o medo, que nos permita manter firme a indignação contra o despedimento ou a sua ameaça.
1 - É um facto que o emprego está a diminuir.
ResponderEliminar2 – Hoje em dia, esse desemprego deve-se sobretudo à evolução tecnológica cujas novas áreas de «emprego» são crescentemente ocupadas por máquinas e cada vez menos por homens.
3 – Corremos aceleradamente para um novo paradigma em que as máquinas vão ter o monopólio da produção a todos os níveis.
4 – A luta deverá ser sempre no sentido de acelerar este processo: do trabalho-homem para o trabalho-máquina.
O futuro do homem será o lazer a seu belo prazer.
Porque sem salários não pode haver compras. Sem compras não há lucros. Sem lucros não há propriedade privada dos meios de produção.