22 setembro 2014

A desigualdade de género no topo dos rendimentos

Como todos os estudos em ciências sociais demonstram, Portugal é uma sociedade profundamente desigual em múltiplos domínios. Um deles foi analisado pelo investigador Frederico Cantante num estudo muito sólido e relevante publicado recentemente no Observatório das Desigualdades. O problema é claro:  "a desigualdade de género é bastante acentuada no acesso aos quantis do topo da distribuição dos ganhos salariais". Isto é, mesmo entre os grupos que ganham salários mais elevados, a diferença entre os homens e as mulheres é abissal. Vejamos alguns exemplos.


Como se percebe, à medida que se sobe na estrutura de distribuição de rendimentos, mais desigual é o acesso de homens e mulheres aos quantis mais bem pagos da população trabalhadora. Nos 10 % com mais rendimento na sociedade, o número de homens é 39 % vezes superior ao números de mulheres. No 1% mais ricos, os homens representam  80 % dos efetivos desse percentil e nos 00,1 % mais ricos a percentagem de diferença é de 90 % vezes mais. O topo de rendimento é habitado esmagadormente por homens.



Já neste gráfico podemos ver como a diferença da amplitude salarial entre homens e mulher aumenta consoante se sobe para o topo hierarquia de rendimentos.


No que respeita ao ganho salarial médio de homens e mulheres nos quantis de topo de rendimentos, constatamos também que quanto maiores são os quantis de rendimento, maior é a desigualdade de média salarial entre homens e mulher. Entre os 1% mais ricos, por exemplo, os homens ganham mais 61,6 % em média que as mulheres. Já entre os 0,1% mais ricos, essa diferença é de 96,4 %.

Esta amostra de dados não dispensa a análise do estudo detalhado, mas ela permite-nos concluir o seguinte: as notícias de que as desigualdades de género no trabalho estão quase erradicadas, são notícias claramente exageradas.

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