21 outubro 2014

O grande encontro do Teatro O Bando



Um ano de preparação parece pouco para condensar numa peça a densidade dos quarenta anos do Teatro "O Bando". Mas foi certamente um ano de imenso trabalho. Na peça "Quarentena" somos transportados para três horas de uma intensidade invulgar: quarenta personagens, quarenta textos representados pelo bando, quarenta escritores de língua portuguesa, quarenta anos de história da companhia. Mas não é apenas a dimensão propriamente histórica que está em questão nesta peça. Ela é uma arquitetura de uma complexidade imensa. Tem dois finais diferentes consoante o dia em que se assiste ao espetáculo e seria preciso pelo menos 4 sessões para se conseguir assistir a toda a peça. 

Não é uma peça qualquer. À entrada o público é dividido por grupos que fazem um percurso autónomo pela vila, percorrendo espaços, obras literárias e fragmentos da história da companhia. Viaja-se por catacumbas, espaços abandonados, campo, autocarros e muitos outros lugares improváveis. No fim, depois de um jantar durante o espetáculo, todos os grupos vão ter ao grande encontro. E é mesmo um grande encontro. Acompanhados por 16 músicos, os 24 atores da peça confrontam-nos sobre a possibilidade de um futuro que rompa com o silêncio. Um futuro com palavras. Esse futuro pode ser amanhã ou pode ter sido ontem. Esse futuro pode existir, ou não. É essa a dinâmica do encontro. 

Na "Quarentena" tem-se uma oportunidade única de viajar por uma companhia com um papel ímpar na história do teatro e da cultura portuguesa. E nela é mesmo possível que quem, como eu, não acompanhou estes 40 anos do bando, fique simplesmente apaixonado por ele. Creio que é mesmo isso. Depois de ver esta peça, senti-me realmente apaixonado pelo bando. E recomendo muito que se apaixonem também. 

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