Estrutura é
daquelas palavras que mais se ouvem na cena política. Como fomos vendo nos
últimos anos, o governo, os partidos que têm estado no poder, a troika e os
vários comentadores do establishment político, defendiam que Portugal precisava
de “reformas estruturais”, “políticas estruturais”, um “ajustamento estrutural”,
uma “mudança estrutural”, uma “consolidação estrutural” e muitas outras coisas
estruturais. Não obstante o vazio destas expressões, houve pelos uma em que
estes anos de austeridade acertaram em cheio: no agravamento da desigualdade
estrutural. Isto é, a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres
aumentou na mesma proporção em que aumentaram as políticas de austeridade do
chamado “ajustamento da economia portuguesa”. Se não vejamos:
Em 2009, as
10 % de pessoas que em Portugal tinham maiores rendimentos ganhavam 9,2 vezes
mais que as 10 % que tinham rendimentos mais baixos. Já nessa altura era um
número impressionante. Mas quem pensasse que a crise afetaria todos os grupos e
todas as classes de forma transversal estava redondamente enganado. A
sociedade portuguesa empobreceu mas a diferença entre os 10 % mais ricos e os
10 % mais pobres disparou, sendo que em 2010 os mais ricos ganham 10,7 vezes
mais que os mais pobres. Os anos de austeridade foram úteis para quem beneficia
da desigualdade económica. E se olharmos para os 20 % mais ricos e os 20 %
mais pobres, que diferenças notamos?