02 janeiro 2015

Lucio Magri: Uma possível história do Partido Comunista Italiano

«O último livro do intelectual e dirigente comunista Lucio Magri, falecido em novembro de 2011 aos 79 anos, O Alfaiate de Ulm reúne quase todos os temas de seus escritos anteriores em um único e poderoso testemunho. Magri (1932-2011) foi um dos mais inteligentes e apaixonados protagonistas da história do comunismo italiano. Uma história que deu origem a uma tradição rica e original, capaz de agregar protagonistas de valor absoluto em nível mundial – Antonio Gramsci, Palmiro Togliatti, Enrico Berlinguer e Pietro Ingrao, para citar somente alguns –, mas que depois, entre 1989 e 1991, inesperadamente pôs fim à própria existência, desistindo daquela que, não sem razão, Perry Anderson definiu como uma “esquerda invertebrada”.

Um dos fundadores da revista e do jornal diário Il Manifesto – criado em 1969 com Luciana Castellina, Luigi Pintor e Rossana Rossanda –, Magri esteve entre os que procuraram resistir ao fim do Partido Comunista Italiano (PCI) e que impulsionaram a constituição da Rifondazione Comunista. Por fim, retirou-se para repensar a história do comunismo, não somente o italiano, e as razões que levaram o PCI à dissolução. Dessa reflexiva pesquisa nasceu O alfaiate de Ulm, agora publicado no Brasil pela Boitempo, com tradução de Silvia de Bernardinis e prefácio de Marcos del Roio. Magri relata como o PCI surgiu e declinou, em meio a mudanças na estrutura da economia e da sociedade, levantes sociais e políticos, colisões ideológicas e internacionais, até seu esgotamento final. Um documento estratégico esboçado pelo autor em 1987, antes do colapso do partido, encerra o livro com uma indicação das possíveis alternativas de uma história ainda incompleta.

30 dezembro 2014

O mais lido de 2014: Ajudar o Duarte Marques a perceber a diferença entre o sujeito e o predicado


Duarte Marques estreou o seu espaço de opinião no Expresso. Da sua leitura percebemos que os métodos de estudo de Miguel Relvas fizeram escola no PSD. Mas nem tudo está perdido. O Inflexão quer ajudar Duarte Marques a escrever em bom português. Vejamos:


Na primeira versão, o texto começava com: "Era, inevitável escrever sobre a novela atual do Partido Socialista.". Alguém criticou e o Duarte corrigiu. Boa, Duarte. Avante.


Francisco Louçã: A chance grega e a salvação da Europa


  • "Creio que isto nos ensina duas lições e nos confronta com uma terceira questão em aberto. A primeira é que só haverá um governo de esquerda quando a esquerda unida tiver mais votos do que o centro: enquanto os partidos que aceitam a troika, a austeridade ou as regras do Tratado Orçamental forem dominantes, não há solução para uma alternativa. A segunda lição, na minha opinião, é que é preciso manter sempre um rumo claro: a esquerda só será mais forte do que o centro se milhões de pessoas fizerem seu o esforço de enfrentar a finança pondo em causa o chicote da dívida, pois essa é a explicação para o ascenso do Syriza. A terceira questão não tem ainda resposta: se tiver o apoio da maioria, o governo de esquerda é capaz de cumprir o seu programa, vencendo então essa maldição de Mitterrand? Não sabemos. Não falhar onde tantos recuaram é uma tarefa ciclópica. Saber para onde ir quando tantos se alimentam de medo e incerteza é um risco acima das possibilidades. E, no entanto, tudo é realizável: não resta mais nada, não há caminhos intermédios, não há meias tintas, não há conciliações possíveis, os de cima não cedem nada e levaram quase tudo."

29 dezembro 2014

O “quanto pior, melhor” de Maria João Avillez


A 19 de Outubro de 2013 escrevia Miguel Sousa Tavares no Expresso o célebre artigo “Recapitulando”, onde advogava a anedótica tese de que o PCP e o Bloco de Esquerda deviam ter aprovado um programa de privatizações da TAP, ANA, CTT, Seguros da Caixa Geral de Depósitos, de parte da Galp e EDP, CP Carga, a EMEF, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, dos transportes suburbanos e, simultaneamente, aumentar o IRS, o IVA e cortar ainda mais em salários e pensões. Segundo o afamado escritor, se a esquerda tivesse aprovado essa loucura – vulgo PEC IV – o país sairia radiante para uma nova era de prosperidade e crescimento. Mas a história não foi essa. A esquerda não aprovou o PEC IV porque todas as medidas nele contido eram de direita e exatamente o oposto de todas as propostas do PCP e do Bloco para resposta à crise. Miguel Sousa Tavares irritou-se com o facto destes partidos não aceitarem a chantagem do PS e saiu ao ataque:

 “ [que a troika era inevitável se o PEC IV fosse chumbado] sabia o PCP e a CGTP, que, como manda a história, não resistiram à tentação do quanto pior, melhor. E sabiam-no Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda, que, por razões que um psicanalista talvez explique melhor do que eu, se juntaram também à mais amoral das coligações direita/extrema-esquerda, com o fim imediato e mais do que previsível de obrigar o país ao resgate e colocar a direita e os liberais de aviário no poder”
A tese de Miguel Sousa Tavares era a de que para o PCP, o Bloco e a CGTP seria preferível o país ficar desolado e na bancarrota porque seriam eles os naturais catalisadores do protesto. A tese não tem muito de original e baseia-se na popularizada frase “para a esquerda, quanto pior melhor”. Mas se essa tese já tem aspeto de fóssil em decomposição, ela continua a ser fértil em recolher novos teóricos. A mais recente teórica desta ideia, embora com a sua sempre alimentada criatividade, é a jornalista Maria João Avillez.

Na sua última crónica de 2014 no Observador, a ilustre jornalista e escritora deu uma cambalhota ideológica impensável e revelou aquilo que alguns consideram tiques da perigosa radical de extrema-esquerda. Diz a autora:

“Basta só pensarmos no que ocorreria na Grécia e fora dela – na Europa mas não só na Europa – com uma vitória do Syriza. (Mas pensando ainda mais um bocadinho, talvez não fosse nem desinteressante nem inútil que tal ocorresse: o susto e as consequências do susto talvez agitassem as consciências de alguns portugueses e as “certezas” que elas produzem — e logo perfilhadas de resto pelos oportunistas úteis).”

28 dezembro 2014

CRU: o filme que vai aterrorizar em 2015





Portugal, anos 201x...
A troika aterra em Lisboa para mais uma avaliação e medidas draconianas. Mas com esta chegada começam uma série de eventos bizarros que farão os mortos dar voltas na tumba.


Um filme do João Camargo (www.cru-filme.pt/)