A certeza de que a direita portuguesa se apresentará coligada nas próximas eleições impõe a pergunta. Há espaço para o CDS na cena política portuguesa ou o regime que germina destes cinco anos de austeridade ditou a unificação da direita portuguesa?
A última vez que PSD e CDS formaram uma coligação pré-eleitoral para as legislativas foi em 1980. Um outro país, no qual Sá Carneiro pressentia a necessidade histórica de reunificação das direitas enfraquecidas pelo abanão do PREC. A revisão constitucional de 1982, que preparou o terreno institucional para a nova via europeia, antecipando as leis fundamentais no domínio da propriedade e controlo do Estado, justificava a sintonia política. Durou o necessário.
Daí ao CDS que hoje conhecemos, assente no domínio omnipresente do líder, foi uma vida. Nos anos noventa, o partido do taxi, esmagado à direita pela hegemonia cavaquista, não respondia aos apelos mais refinados de uma "nova direita", acalentada por Paulo Portas nesta entrevista recuperada há pouco tempo.
A luta contra a direita neoconservadora tradicional, encarnada pela figura notarial de Cavaco, passava pelo resgate do CDS a partir de uma afirmação cultural distintamente classista, muito suportada pela pena de Miguel Esteves Cardoso, e por uma difusa mimetização discursiva do conservadorismo inglês, assente no elogio das instituições perenes e do empoderamento das elites. Com o início do reinado de Portas, toda esta retórica estancou perante a impossibilidade da sua tradução em votos. A direita cool e moderna, mesmo com o suporte de alguns democratas-cristãos, precisava encontrar o seu campo eleitoral, e o PSD ainda era o partido central da burguesia portuguesa.