26 março 2014

Portugal da austeridade: o maravilhoso mundo onde quem tem filhos fica pobre

O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento do INE revelou que o risco de pobreza em 2012 tinha subido para 18,7% e que, fixando os rendimentos, no valor de 2009 - período anterior à entrada em vigor do regime de austeridade - 1 em cada 4 pessoas estava em risco de pobreza. 

Para além disso, em 2012 os pobres ficaram muito mais pobres e a taxa da intensidade da pobreza está nos 27,3%. Ou seja, as pessoas que estão em risco de pobreza vivem em média com menos de 300€ por mês.

Outro dado dramático deste estudo do INE é que quem decide ter filhos em Portugal vê aumentado o risco de pobreza. A taxa de risco de pobreza para os menores aumentou 2,6 p.p. afetando agora um quarto das crianças e jovens menores. As famílias de dois adultos com mais de três crianças têm um risco de pobreza de 40,4% e de um adulto com uma criança 33,6%. Para grande parte das tipologias familiares, ter crianças significa uma taxa de risco de pobreza acima da média.

Em Portugal ter filhos pode significar cair na pobreza.



No telejornal desta terça-feira uma voluntária de uma IPSS no Algarve resumia tudo numa frase aflita: "Oiço-os na televisão a falar que é preciso ter mais filhos. Mas eu aqui só rezo para que não tenham."

Passos Coelho, confrontado com três dias de notícias sobre os números assustadores da sangria que impôs ao país, informou que a prioridade no “Estado e governos farão bem aquilo que lhes cabe se olharem para as políticas sociais como políticas de investimento social, para romper com os ciclos de pobreza, para promover a mobilidade social; para, numa palavra, abrirem o mundo da inovação a todas a pessoas sem excepção” (notícia aqui). Assumir que o problema radica na austeridade? Não. Propostas? Não. Apenas retórica sobre o mirífico "mundo da inovação".

Também Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, por seu lado quis abordar a questão da baixa de natalidade nas jornadas parlamentares da sua bancada, mas falhou o alvo, pois Joaquim Azevedo - indicado por Passos como coordenador do grupo de trabalho sobre natalidade - centrou atenções nas empresas não serem amigas da natalidade e não nos baixos salários, na precariedade, no desemprego e nos cortes nos apoios sociais realizados pelo governo (notícia aqui). Propostas para atacar o problema? Nada. Apenas o apelo vazio a um pacto, sem se saber sobre o quê.

As pessoas estão piores, mas o país está melhor, dirão.

Não é propaganda que irá mudar a realidade. Depois de 29,4 mil milhões de medidas de austeridade em 5 anos o resultado na vida das pessoas ainda está longe de ser visível nas estatísticas, mas já sabemos que a situação é alarmante.

Às causas estruturais históricas para o problema da pobreza, da pobreza infantil e da baixa natalidade, juntam-se novas causas estruturais, criadas pela resposta do governo e da troika a problemas conjunturais. 

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