29 setembro 2014

A Concertação Social não ser pode uma reunião secreta entre Carlos Silva e Passos Coelho

Marques Mendes voltou a dar com a língua nos dentes: Passos e Carlos Silva tiveram um "encontro privado, com muito sigilo" para garantir que a UGT aceitaria os termos da subida do salário mínimo de 485€ para 505€. Desta forma, o comentador da SIC e barão do PSD faz o que Passos lhe pediu, garantindo que o mundo saiba que ele também esteve envolvido nas negociações do salário mínimo e que terá sido ele a "ultrapassar o impasse".

Foi um movimento muito importante por parte de Passos, porque depois de se esvair o mito da "retoma económica" esta é a única arma política que terá no ano eleitoral que se aproxima. E, mais, Passos bem precisou que Marques Mendes o dissesse no seu comentário, porque Mota Soares quis tomar os louros do acordo e até Paulo Portas saiu do avião a correr para estar na fotografia do evento.

Mas Carlos Silva, o amigo de Ricardo Salgado, mostrou, de facto, mais uma vez a fibra de que é feito, não devendo nada a João Proença, seu predecessor. Há semanas atrás, Paulo Portas dizia que "felizmente que na concertação social existe uma UGT" e hoje percebe-se porquê.


Depois de 3 anos congelado o salário mínimo vai ser atualizado para um valor abaixo do que hoje teria se o acordo de 2010 tivesse sido cumprido por José Sócrates e Passos Coelho; depois de João Proença ter assinado um "acordo" no início do memorando da troika que permitiu todos os ataques ao código do trabalho, sem nunca o governo de Passos e Portas ter cumprido as partes onde se falava de apoios para os trabalhadores; depois de termos mais de metade da força de trabalho precária ou desempregada; depois de tudo isto, podemos sempre contar com Carlos Silva e o seu acordo.

Desta vez o "acordo" que Carlos Silva assinou foi tão bizarro, que Silva Peneda, presidente do Conselho Económico e Social, foi chamado de urgência do Algarve na manhã de quarta-feira para estar presente na assinatura à tarde. Silva Peneda ainda terá dito que um acordo segue certos trâmites e que não era legal fazê-lo assim. Mas Passos, a braços com o escândalo da Tecnoforma, terá feito finca pé e insistido que teria de ser assinado.

Um pormenorzito: não avisaram sequer a CGTP.

Se o simulacro de concertação social apenas permite que quem manda mantenha a austeridade e destrua os salários, as pensões e o emprego, se a concertação social é substituída por reuniões entre a UGT e Passos Coelho, se é isto que Carlos Silva faz então mais vale acabar com a charada.

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